27 de mar. de 2013

Mielomalácia hemorrágica progressiva em 14 cães

Pesq. Vet. Bras. 33(2):219-228, fevereiro 2013
Autores: Débora de M. Zilio e Mônica V. Bahr Arias
RESUMO: A mielomalácia hemorrágica progressiva (MHP) é uma afecção rara e fatal, em que ocorre necrose aguda isquêmica e progressiva do parênquima da medula espinhal levando à liquefação da mesma. Pode ocorrer após extrusão do disco intervertebral, trauma medular ou embolismo fibrocartilaginoso. Este estudo teve como objetivo avaliar casos de mielomalácia hemorrágica progressiva em cães atendidos no Hospital Veterinário da Universidade Estadual de Londrina entre os anos 2000 e 2011, realizando-se a análise dos prontuários de atendimento e acompanhamento dos casos. Os animais do presente estudo atendiam a alguns critérios de inclusão, como histórico de paraplegia com sinais de neurônio motor superior, piora dos sinais progredindo para tetraplegia flácida, alterações clínicas progressivas e/ou alterações nos exames complementares. Foram analisados os aspectos epidemiológicos (raça, idade e sexo), clínicos  (evolução dos sinais clínicos e neurológicos), laboratoriais (análise do líquido cefalorraquidiano), Radiográficos (radiografias simples e contrastadas) e o tempo decorrido desde o início dos sinais clínicos até óbito ou eutanásia. A raça Teckel foi a mais acometida (43%), a média de idade foi de 5,04 anos e no atendimento inicial a síndrome toracolombar grau V foi a alteração mais encontrada, além de hiperpatia  e progressão cranial da diminuição do reflexo cutâneo do tronco. Em sete cães a causa da MHP foi a doença do disco intervertebral toracolombar, em um cão a causa foi o trauma medular, em dois cães a MHP foi decorrente de linfoma e em quatro cães a causa provável foi doença de disco intervertebral. Alterações na análise do líquido cerebroespinhal, na mielografia e na evolução dos sinais clínicos e neurológicos foram extremamente importantes para diagnosticar a MHP. Seis animais progrediram para tetraplegia e quatro cães já apresentavam tetraplegia flácida no atendimento inicial. Em  outros quatro pacientes, a identificação de sinais sugestivos de MHP antes desta progressão levou à indicação de eutanásia. Como o prognóstico é ruim e ocasiona sofrimento ao animal, o clínico deve estar atento ao histórico de paraplegia com posterior mudança da síndrome de neurônio motor superior para neurônio motor inferior, diminuição do reflexo cutâneo do tronco cranialmente e presença de respiração  abdominal, sendo que algumas alterações em exames complementares encontradas neste trabalho também podem auxiliar no diagnóstico precoce da MHP, como o líquido cerebroespinhal xantocrômico com aumento de proteínas, hemácias e pleocitose. Na mielografia o edema medular e a presença de contraste no interior do tecido nervoso, frente às alterações clínicas e liquóricas, são sugestivas de MHP.

Progressive hemorrhagic myelomalacia in 14 dogs
Progressive hemorrhagic myelomalacia (PHM) is a rare and fatal disorder which is characterized by acute and progressive ischemic necrosis of the parenchyma of the spinal cord,  leading to its liquefaction. It may occur after intervertebral disc extrusion, spinal trauma  or fibrocartilaginous embolism. The aim of this study was to evaluate cases of progressive  hemorrhagic myelomalacia in dogs in the Veterinary Hospital of Universidade Estadual de  Londrina between 2000 and 2011, through the analysis of medical records and following  of cases. There were certain criteria to include a patient in this study, such a history of  paraplegia with upper motor neuron signs, worse of signs progressing to flaccid tetraplegia, progressive clinical changes and/or changes in complementary exams. There were  analyzed several aspects, such as epidemiological (breed, age and sex), clinical (progress  of clinical and neurological signs), laboratory (cerebrospinal fluid analysis - CSF), radiographic (conventional radiography and contrasted) and elapsed time since the onset of clinical  signs until death or euthanasia. The most affected breed was Teckel (43%), the average age  was 5.04 years and the neurological syndrome observed initially was the thoracolumbar  syndrome grade V. Another commons signs observed were hyperpathia and cranial progression of decreased cutaneous trunci reflex. In seven dogs the cause of the PHM was the  thoracolumbar intervertebral disc disease, in a dog the cause was spinal cord trauma, in  two dogs PHM was due to lymphoma and in four dogs the likely cause was intervertebral  disc disease. CSF analysis, myelography changes and progress of clinical and neurological examinations were extremely important to diagnose PHM. Six animals progressed to  tetraplegia and four dogs had already flaccid tetraplegia at the initial care. In four other  patients, the identification of signs suggestive of PHM before this progression has led to indication for euthanasia. The prognosis is poor and causes animal suffering, so the clinician  should be aware of the history of paraplegia with subsequent change of upper motor neuron syndrome to lower motor neuron, cranial decreased reflex panniculus and presence of  abdominal breathing. Some alterations in complementary exams found in this study may  also help in early diagnosis, as xanthochromic CSF with increased protein, erythrocytes  and pleocytosis. Spinal cord edema and the presence of contrast within the nervous tissue  together with clinical signs and CSF alterations are suggestive of PHM.

15 de mar. de 2013

Diagnóstico clínico e radiográfico de luxação traumática da articulação atlanto-occipital em dois cães



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ink para a publicação



B.M. Araújo
, M.L. Figueiredo
, A.C. Silva
, T.H.T. Fernandes
, E.A. Tudury


Arq. Bras. Med. Vet. Zootec., v.65, n.1, p.133-138, 2013 

RESUMO
A luxação da articulação atlanto-occipital é considerada uma afecção incomum no homem e nos animais. 
Radiografias laterais são recomendadas para o diagnóstico. No entanto, estão sujeitas a erros relacionados 
ao ângulo de radiação, ao alvo da imagem, à distância e à sobreposição óssea. Objetivou-se neste relato 
descrever os achados clínicos e radiográficos de dois cães com luxação traumática da articulação atlantooccipital que apresentavam tetraparesia, dor cervical cranial, incapacidade de elevar a cabeça e déficits de nervos cranianos. No primeiro animal, observaram-se deslocamento craniodorsal do processo articular do atlas em relação a um dos côndilos do occipital, ausência de sobreposição dos forames vertebrais laterais e sobreposição do côndilo do occipital ao processo articular do atlas, no lado direito, caracterizando uma luxação unilateral. No segundo animal, observou-se deslocamento craniodorsal dos processos articulares do atlas em relação aos côndilos do occipital, com sobreposição dos forames vertebrais laterais e ausência de visibilização dos côndilos do occipital em virtude da projeção cranial dos processos articulares do atlas em direção ao crânio, caracterizando luxação bilateral. Conclui-se que o exame radiográfico simples, nas projeções laterolateral e ventrodorsal, apesar da dificuldade de ser interpretado, é eficiente para confirmar o diagnóstico da luxação atlanto-occipital traumática, tanto a simétrica quanto a assimétrica.

ABSTRACT
Atlanto-occipital luxation is considered rare in both humans and animals. Lateral radiographs are recommended for diagnosis, however, errors may occur related to the angle of radiation, image target, distance and overlapping of bone. Our objective is to report the clinical and radiographic findings in two dogs with traumatic atlanto-occipital luxation, which had tetraparesis, cranial neck pain, and inability to raise the head and cranial nerve deficits. The first animal had a cranio-dorsal dislocation of the articular process of the atlas in relation to one of the occipital condoles, with no overlapping of the transverse foramens or overlapping of the occipital condile in relation to the articular process of the atlas, on the right side, which characterizes a unilateral luxation. The second animal presented with a cranio-caudal dislocation of the articular processes of the atlas regarding the occipital condoles, with overlapping of the transverse foramens and inability to visualize the occipital condoles due to the cranial advancement of the articular processes of the atlas towards the skull, which characterizes a bilateral luxation. We conclude that a simple radiographic exam, in lateral and ventrodorsal projections, though difficult to interpret, is efficient in confirming a diagnosis of traumatic atlanto-occipital luxation, both symmetric and asymmetric.