28 de mar. de 2008

CONTRAÇÕES MUSCULARES INVOLUNTÁRIAS- CLASSIFICAÇÃO

Existe uma variedade de definições para os termos clínicos tanto em medicina humana como veterinária. Isso dificulta a comunicação, principalmente quando o veterinário pretende descrever os movimentos involuntários. As desordens dos movimentos podem causar defeitos negativos (movimentos que não podem ser realizados como paresia, paralisia) ou positivos (movimentos involuntários como convulsões, ataxia, tremores). Alguns movimentos são difíceis de diferenciar das convulsões parciais. Os movimentos involuntários que ocorrem em animais conscientes são classificados por sua vez em movimentos caracterizados por:


  • aumento do tônus muscular
  1. tétano
  2. tetania
  3. espasticidade
  4. miotonia
  5. opistótono
  • movimentos repetitivos
  1. tremor
  2. mioclonia
  3. outros

Definições:


TÉTANO: contração muscular mantida sem períodos de relaxamento, normalmente decorrente da toxina do Clostridium tetani

TETANIA: descreve condição similar mas caracterizada por contração muscular tônica intermitente, normalmente decorrente de hipocalcemia, mas pode ter outras causas, principalmente as metabólicas

ESPASTICIDADE: desordem motora caracterizada por aumento do tônus muscular com reflexos miotáticos exagerados, normalmente associado a lesão do tipo NMS

OPISTÓTONO: postura em que a cabeça e pescoço estão estendidos para tráas, acompanhada de aumento do tônus extensor dos membros

MIOTONIA; contração muscular sustentada, causada por um defeito primário na membrana muscular

TREMOR: estremecimento, vibração involuntária que poe ocorrrer durante o repouso ou movimento. A maioria dos tremores que ocorrem durante o movimento está associada com doenças cerebelares, intoxicações e doenças desmielinizantes

MIOCLONIA: contração rítmica e repetitiva de uma porção de um músculo, um músculo inteiro ou um grupo muscular . A causa mais comum é a cinomose.


AS CONTRAÇÕES MUSCULARES INVOLUNTÁRIAS PODEM SER CLASSIFICADAS PELA LOCALIZAÇÃO:


Músculo

  • miotonia: As desordens das membranas celulares dos músculos podem resultar em miotonia, que é a contração da célula muscular sem relaxamento, após um estímulo fisiológico. Representa uma desordem da membrana celular muscular. A forma herdada em cães é descrita principalmente no chow-chow e schnauzer miniatura. A forma adquirida é vista em cães com hipeadrenocorticismo

Sistema nervoso:

  • tétano - causado principalmente pela toxina tetânica. O grau de contração muscular varia entre os pacientes.

  • Tetania - pode ocorrer com intoxicação por estricnina, em labradores é descrita uma forma congênita, ou pode ter causas metabólicas

  • Mioclonia
  1. esporádica: pode ser benigna ou uma forma de convulsão. O movimento ocorre subitamente e não se repete imediatamente, a causa é desconhecida. Se a mioclonia se repete em minutos ou horas, pode ser uma convulsão simples parcial que pode ter origem estrutural. O paciente deve ser abordado como um paciente epiléptico e tratado com anticonvulsivantes

  2. repetitiva: pode ocorrer durante a ação, repouso e sono ou só quando o paciente está acordado

A. constante: ocorre somente em cães infectados pelo vírus da cinomose e raramente outras formas de encefalomielite e intoxicação por chumbo

B relacionada à ação: afeta músculos esqueléticos e é muito rápida, parecida mais com um tremor. Desaparece durante o sono ou relaxamento. Às vezes é definida como tremor de intenção e está relacionada a doenças cerebelares, nesse caso existem outros sinais associados. Pode ser adquirida ou congênita. A forma congênita comumente é causada por anormalidades na mielinização e os tremores são observados ao nascimento ou quando o filhote começa a andar. Não está presente quando o animal dorme. A forma adquirida é mais comum em cães brancos de raças pequenas, associado a ataxia cerebelar ou vestibular. O líquor pode ser anormal. Deve ser diferenciada de toxicoses, principalmente a micotoxina tremorgênica.

C. postural: relacionada à ação , mas é limitada aos músculos posturais envolvidos no suporte de peso e está ausente nos movimentos voluntários. Vista em cabeça e pescoço de cães jovens e membros pélvicos de cães idosos.

LEITURAS SUGERIDAS


Classifying involuntary muscle contractions. De lahunta, Glass & Kent
Compendium continuing Education, p.516-529, v.28, n.7, julho de 2006

http://vetneuromuscular.ucsd.edu/cases/2004/sep04.html

http://vetneuromuscular.ucsd.edu/cases/2003/mar03.html

http://vetneuromuscular.ucsd.edu/cases/2003/jun03.html

http://vetneuromuscular.ucsd.edu/cases/2001/jun01.html


19 de mar. de 2008

Hipoglicemia em cães e gatos

  • A glicose é o principal suprimento energético para o funcionamento apropriado das células nervosas
  • Hipoglicemia, ou seja, glicemia menor que 50 mg/dl, pode resultar em fraqueza, tremores musculares, convulsões, estupor ou coma e os sinais clínicos podem ser episódicos]
  • A hipoglicemia prolongada leva a morte de neurônios e dano cerebral permanente
  • Na hipoglicemia decorrente de insulinoma pode haver convulsão focal e generalizada, paresia, fraqueza, colapso, fasciculações musculares, alteração de comportamento e intolerância à exercício

Causas de hipoglicemia

  1. Hipoglicemia juvenil em raças toy
  2. Sobredose de insulina
  3. Insulinoma
  4. Exercício excessivo em cães de caça em jejum
  5. Insuficiência hepática
  6. Sepse
  7. Hipoadrenocorticismo
  8. Síndrome paraneoplásica (carcinoma hepatocelular, carcinoma mamário metastático, carcinoma pulmonar primário, leiomiossarcoma)
  9. Parasitismo excessivo

Diferencial
Em caso de convulsão e colapso diferenciar de problemas cardiovasculares (síncope), metabólicos (anemia, hipocalcemia) e neurológicos (epilepsia) entre outros.


Diagnóstico
O nível sérico de glicose pode ser baixo e depois normal entre os episódios hipoglicêmicos, sendo necessário a coleta repetida e em jejum. Podem haver outras anormalidades nos exames laboratoriais em caso de insuficiência hepática e sepse. Caso haja a suspeita de Insulinoma, deve-se coletar sangue em jejum e quando a glicemia estiver menor que 60, coletar sangue em tubo com fluoreto de sódio para dosagem de insulina pareada. O nível de insulina alto na presença de hipoglicemia sugere o tumor secretor de insulina.

Na ultra-sonografia abdominal pode-se às vezes visualizar insulinomas ou outras massas, mas a exploração cirúrgica é superior a este exame para o diagnóstico
Radiografias torácicas são indicadas para descartar neoplasias pulmonares


Tratamento
Glicose a 50%, 1 a 2 ml/kg, IV, diluído a 1:1 em salina, lentamente para corrigir a crise hipoglicêmica, ou sem diluir pela via oral nos animais capazes de engolir, ou xarope de milho se os sinais de hipoglicemia ocorrerem em casa. Em caso de hipoglicemia juvenil ou sobredose de insulina, esta terapia é adequada antes de levar o animal ao veterinário para investigar as causas da falha do controle da glicemia
Para insuficiência hepática, sepse ou insulinoma, terapia complementar é indicada

Insulinoma
A administração de glicose em cães com insulinoma alivia temporariamente o problema mas pode estimular o tumor a secretar mais insulina levando a hipoglicemia grave em poucas horas. Recomenda-se alimentar os animais a cada 4 ou 6 horas com refeições ricas em proteínas, gorduras e carboidratos complexos com pouco açúcar simples. Em casos refratários pode ser necessário administrar prednisona ou dexametasona
A remoção cirúrgica do insulinoma é mais indicada e oferece o melhor prognóstico a longo prazo, porém podem haver metástases e o prognóstico se torna reservado
O tratamento clínico envolve a administração de 3 a 6 refeições diárias, limitação de exercícios e administração de prednisona, com monitorização da glicemia, podendo haver sobrevida de até um ano .O diazóxido é outra opção caso esta terapia falhe.

http://www.pubmedcentral.nih.gov/picrender.fcgi?artid=385451&blobtype=pdf
http://www.pubmedcentral.nih.gov/picrender.fcgi?artid=1539786&blobtype=pdf
http://www.blackwell-synergy.com/doi/pdf/10.1111/j.1748-5827.2007.00404.x