16 de nov. de 2007

CONCENTRAÇÃO SÉRICA DE FENOBARBITAL EM CÃES EPILÉPTICOS RECEBENDO ESTE FÁRMACO

Autores: Eduardo Luís Bozzolan Afonso; Henrique Paloschi Horta; Milena de Almeida Logar; Mônica Vicky Bahr Arias
In: XXIV Congresso Brasileiro da Anclivepa, 2003, Belo Horizonte.
Anais do XXIV Congresso Brasileiro da Anclivepa. , 2003. p.40
RESUMO
Foram analisados os dados de 18 cães com diagnóstico de epilepsia idiopática ou criptogênica, subseqüentemente tratados com fenobarbital. Em todos os pacientes realizou-se a mensuração da concentração sérica deste fármaco. A concentração sérica de fenobarbital variou de 12,55 mg/ml a 43,06 mg/ml (média 23,33), sendo que em oito cães (44%) este valor era menor do que 20 mg/ml. Houve grande variação nos valores encontrados, independentemente da dose ministrada, mostrando que este exame deve-se tornar rotina para o clínico, para que o tratamento seja corretamente estabelecido.

INTRODUÇÃO
O fenobarbital ainda é o medicamento mais utilizado por veterinários para o controle das convulsões em cães, apesar da introdução de novos anti-epilépticos (Sisson, 1997; LeCouter, 1998; Boothe, 1999; Platt, 2003). O fenobarbital é um medicamento barato e 60 a 80 % dos cães podem ter as convulsões controladas eficientemente (LeCouter, 1998), se sua concentração sérica for consistentemente mantida dentro da faixa terapêutica adequada (LeCouter, 1998; Boothe, 1998).
Há divergências sobre a concentração sérica ideal. Originalmente o limite terapêutico estabelecido situava-se entre 15 e 45 mg/ml (Farnbach, 1984, Trepanier, 1999), o que controlava 60% dos cães epilépticos (Platt, 2003). Para Boothe (1998) ela deve ser mantida entre 20 e 45 mg/ml. Já para Podell (2001), o ideal é mantê-la entre 20 e 40 mg/ml, sendo o nível inicial ótimo situado entre 20 e 25mg/ml (Podell, 1999). Estes valores devem ser atingidos imediatamente antes de cada administração subseqüente (Sisson, 1997).
A hepatotoxicidade aparentemente só ocorre se a concentração sérica for mantida acima do limite máximo por períodos prolongados (Boothe, 1998). Assim, há maior eficácia no tratamento se a monitorização sérica for utilizada como um guia para ajustes na dose (Boothe, 1999). Para realização deste exame, a amostra de sangue deve ser coletada pela manhã, em jejum, antes do horário de administração do medicamento (Podell, 1999).

MATERIAIS E MÉTODOS
Foram analisados os dados de 18 cães com diagnósticos de epilepsia idiopática ou criptogênica, apresentando convulsões parciais ou generalizadas, atendidos no Hospital Veterinário da Universidade Estadual de Londrina e subseqüentemente medicados com fenobarbital. Os pacientes foram submetidos a exame físico, neurológico e a exames complementares como hemograma, perfil bioquímico, glicemia, calcemia, urinálise, sorologia para toxoplasmose, teste de Schirmer e análise de líquor, quando indicado. Seis animais já vinham recebendo anti-convulsivantes: fenobarbital (4 animais), diazepam (1 animal) ou uma associação de difenil-hidantoína sódica e diazepam (1 animal). Após o diagnóstico de epilepsia, os animais foram tratados com fenobarbital a cada 12 horas. Os quatro animais que já recebiam fenobarbital tiveram a freqüência e/ou a dose ajustada. Os animais que recebiam outros anti-convulsivantes passaram a receber fenobarbital e o primeiro anti-convulsivante foi gradativamente retirado. Todos os pacientes foram submetidos à coleta de sangue para monitorização da concentração sérica do fenobarbital após terem recebido a medicação por no mínimo 14 dias. A coleta foi realizada pela manhã, antes do horário de administração do medicamento, e o sangue foi encaminhado para um laboratório humano da cidade.

RESULTADOS
A média de idade dos 18 cães (9 fêmeas e 9 machos) foi 4 anos e 6 meses (1,6 a 12,5 anos). Quanto à raça, constatou-se que haviam cinco animais sem raça definida, quatro poodles, quatro pinschers, dois rottweillers, um pastor alemão, um lhasa apso e um boxer. A dose de fenobarbital utilizada variou de 2,5 a 10 mg/kg (média de 4,1 mg/kg).
O nível sérico encontrado nos 18 animais variou de 12,55 mg/ml a 43,06 mg/ml (média 23,33). Oito cães (44%), apresentaram nível sérico menor do que 20 mg/ml. Nestes cães a concentração sérica mínima encontrada foi de 12,55 mg/ml e a máxima de 18,3 mg/ml (média 16,65 mg/ml). Destes oito cães, sete recebiam fenobarbital na dose de 2,5 a 3,5 mg/Kg, a cada 12 horas e um cão recebia 10 mg/kg a cada 12 horas. Dentre os cães com nível sérico maior do que 20 mg/ml, o menor valor encontrado foi de 21,67 mg/ml, e o maior foi 43,06 mg/ml (média 30,64 mg/ml). Estes cães recebiam fenobarbital na dose de 2,5 a 10 mg/kg a cada 12 horas, sendo que sete pacientes recebiam entre 2,5 e 3,5 mg/kg a cada 12 horas, e três cães entre 6,0 e 10 mg/kg a cada 12 horas. O valor sérico encontrado para o paciente recebendo 10 mg/kg foi 25 mg/ml.
Cinco animais apresentaram efeitos colaterais temporários como poliúria, polidipsia, polifagia e ataxia. Após a avaliação do resultado do exame, realizou-se o ajuste da dose, aumentando-se ou diminuindo-se a dose, procurando manter-se a concentração entre 20 e 30 mg/ml. Em três animais realizou-se nova coleta de sangue para melhor controle da concentração do fármaco. Em três casos foi indicado a ovário-salpingo-histerectomia. Durante o período de observação, todos os animais apresentaram melhora do quadro, com diminuição da freqüência e/ou intensidade das convulsões.

DISCUSSÃO
A mensuração da concentração sérica de fenobarbital mostrou grande variação nos valores encontrados, independentemente da dose ministrada, o que está de acordo com Boothe (1997), Boothe (1998) e LeCouter (1998). Segundo estes autores, a concentração sérica deve ser usada como guia para modificação do tratamento, ao invés do critério clínico, pois há grande variabilidade na distribuição deste fármaco entre os animais. No presente trabalho, a monitorização sérica detectou sub-doses e doses altas, permitindo o ajuste do tratamento quando necessário, diminuindo a incidência de efeitos colaterais. Assim, a monitorização sérica é muito importante para averiguar se o nível sérico está dentro do intervalo adequado, determinar resistência ao fármaco, individualizar a terapia e prevenir hepatotoxicidade (Podell, 1999; Trepanier, 1999).

CONCLUSÃO
O exame para verificar a concentração sérica de fenobarbital deve tornar-se rotina para o clínico, para que o tratamento seja corretamente estabelecido e bem sucedido. Este procedimento leva ao melhor controle das convulsões, diminui a incidência de efeitos colaterais e reduz a atitude muitas vezes precoce de substituição ou combinação de fármacos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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BOOTHE, D.M. Anticonvulsant therapy in small animals. Veterinary Clinics of North América: Small Animal Practice. v.28, nº2, p. 411-448,1998.
BOOTHE, D.M. Anticonvulsant clinical pharmacology: improving management of refractory seizures. Proceedings of American College of Veterinary Internal Medicine, Chicago, p.319-321, 1999.
FARNBACH, G.C. Serum phenobarbital concentrations and efficacy of phenytoin, phenobarbital and primidone in canine epilepsy. Journal of the American Veterinary Medical Association, v.184, p.117-120.
LECOUTEUR, R.A. Convulsiones. Anales del XXIII Congresso de la Associacion Mundial de Medicina Veterinária de Pequeños Animales, p. 445-449, 1998.
PLATT, S.R. Appropriate anticonvulsant use. Proceedings of The North American Veterinary conference, p.611-3, 2003.
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PODELL, M. Strategies of antiepileptic drug therapy. Proceedings of the of American College of Veterinary Internal Medicine, Denver, p.430-2, 2001.
SISSON, A. Current experiences with anticonvulsants in dogs and cats. Proceeding of the American College of Veterinary Internal Medicine. Lake Buena Vista, p.596-598, 1997.
TREPANIER, L.A. Using phenobarbital wisely. Proceeding of the American College of Veterinary Internal Medicine, Chicago, p.268-270, 1999.

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